Como diz Emicida: "Tudo o que nóis tem é nóis."

Escrevi pela última vez por aqui em setembro, mas a regularidade de minha escrita apenas aumentou em 2020. Surgiram crônicas, poesias, bilhetes e cartas mentais. Existe uma frase que não tenho certeza se é da Clarice, mas diz o seguinte: "Escrevo como se fosse salvar a vida de alguém, talvez a minha."

Penso que quando escrevo, me salvo um pouco. Me detenho do mundo e suas implicações nefastas. Dois mil e vinte para alguns é um ano apocalíptico, e para outros, um ano de aprendizado, mas no geral, estamos vivendo um ano pesaroso. Vou adjetivar assim, e deixo o termo gourmet sobre o novo normal para quem quiser, porque nesse texto minha análise é demasiadamente humana e emocional.  

Digo isso, porque se normaliza de forma escancarada o que deveria nos conscientizar para construirmos uma humanidade melhor. Sei que deixar a rotina da comum liberdade de forma abrupta é pesaroso, ainda mais quando se teme um inimigo invisível que mata rapidamente. E chega sem pedir licença, apenas executa sua finalidade. Atualmente, passamos 190 mil mortos, e da forma mais drástica entendemos que não estamos lidando com uma gripezinha, tá ok?

No começo foi um susto, havia uma fala de luto nas conversas, mas com o tempo, me parece que passamos a entender tudo de forma numeral e desimportante. Ninguém é coveiro, mas somos um país de hábitos pautados no cristianismo, mesmo que sem fé. Então me questiono, como é o Cristo desses cristãos sem afeto, amor e empatia? Não há uma resposta prática, mas pouca surpresa para as incoerências vistas dos anônimos detentores de bandeiras conservadoras, aos que desempenham seus podres poderes.  

Não sei se você está entre as pessoas que dizem não gostar de política, mas existir é um ato político, e resistir a violência do Estado contra a periferia, pobreza que se intensifica com a subtração de direitos, sucateamento do ensino e saúde pública, é um ato político, mesmo que você não esteja na linha de frente da militância. E quando eu começo o texto falando da minha arte, estou falando de resistência, quando falo sobre nossa complexa conjuntura, estou falando de resistência, e quando finalizo te provocando, é que eu espero que você siga resistindo: "Tudo o que nóis tem é nóis." Emicida. 

E para quem conhece essa música, confiram: https://www.youtube.com/watch?v=kjggvv0xM8Q

Um abraço,

Almir S.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Chorar incomoda a quem?

O ensaio da despedida

Olhei para o céu, lembrei de ti!