Chorar incomoda a quem?
Em alguns dias penso que nunca mais escreverei, e já em outros penso tanto, falo tanto, sinto tanto, que eu percebo as palavras correndo de forma solta por todo o meu corpo. Porque eu não choro, e quando choro, desabo. Vai fundo o meu choro. Minha relação com a lágrima sempre foi algo muito cuidadoso, porque em casa, sempre ouvi que eu chorava demais quando criança. E isso incomodava, e eu fui crescendo com esse medo de incomodar. Quando minha avó materna faleceu, lembro que não consegui chorar no dia, no velório e no enterro. Fiquei entalado. Nasci na casa dela, na cama dela. Ela era amorosa demais comigo, mas sempre me alertava sobre o meu choro. E apenas alguns anos depois consegui, de fato, chorar de saudade, de falta. Consegui viver o vazio que era o luto daquela perda que me pedia para não chorar. Quanto mais a gente cresce, mais a gente toma espaço no mundo. Os ossos alargam, a voz muda, os pelos crescem, caem e voltam a crescer mais uma vez. São tantos ciclos. A gente fica meio...